Deus é santo e nos chama à santidade, por meio de
várias vocações: sacerdotal, missionária, religiosa, eremítica, monacal, de
cristão leigo, cristã leiga. “Deus capacita a quem ele chama”, diz um ditado.
“Sede santos
porque eu sou santo (também Levítico 19,2).
Mateus 5,48:
“Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”
Muitos dizem que é impossível ficar sem pecar. Então,
o que é a santidade? É ficar sem pecado? Eu diria que, se Deus nos chamou à
perfeição e à santidade, é possível, sim, ficar sem pecar, embora continuemos
pecadores na “teoria”. Somos pecadores principalmente no sentido de que sempre
estamos no perigo de pecar. Os santos viveram praticamente sem pecados, apenas
com algumas pequenas faltas.
Para não cometermos pecado é preciso que não queiramos
pecar. Se queremos pecar, a matéria é grave e sabemos disso, fazermos um pecado
mortal. Entretanto, mesmo não sendo matéria grave, o “querer” pecar demonstra
má índole e acabaremos caindo em pecado mortal (ou grave). Veja Romanos 7,
14-25, em São Paulo percebe nele uma força que o leva a fazer o que não quer e
não fazer o que quer.
O cristão deve tirar da mente o desejo de pecar, como
diz S. Paulo: “Tornai-vos sóbrios, como é necessário, e não pequeis!” Veja que
ele não fala “não cometais pecados graves”, mas sim, “não pequeis”, ou seja,
não cometer pecado algum! Ora, se ele
está pedindo para não cometermos nenhum pecado, é porque isso é possível! Ele,
como Apóstolo, nunca iria pedir-nos que fizéssemos o impossível.
Em todo caso, eu diria que precisamos nos colocar
sempre diante de Deus, humildemente, pedindo perdão pelos pecados que ainda não
conseguimos dominar e recomeçar a cada dia a luta para atendermos São Pedro e,
antes dele, Jesus: “Sede perfeitos
(santo) como o vosso Pai é perfeito (Santo)”.
A santidade depende muito do “vigiai e orai” de Mateus
26,41, Marcos 14,28 e também Mateus 24,42; 25.13; Marcos 13,35; Mateus 13,33;
37; 1ª Pedro 5,8 etc. Sem a vigilância, acabaremos deixando a oração e, sem a
oração, acabaremos não vigiando.
Na verdade, o eixo de toda a nossa atividade e busca
de Deus é a oração. A oração é o “plug” que nos liga ao paraíso. Sem ela,
dificilmente conseguiremos deixar o pecado e sequer iniciarmos o processo de
auto santificação. É preciso lembrar, entretanto, que não existe uma “auto
santificação”, pois é Deus quem nos santifica.
“Santificar” tem o mesmo entendimento que “consagrar”.
Sermos santos quer dizer sermos consagrados a Deus.
Pelo Batismo todos somos consagrados a Deus e, por isso
mesmo, santificados. É por isso que nos Atos os cristãos (portanto os
batizados) são chamados santos. O cálice que o padre usa na Missa, por exemplo,
é consagrado e não pode ser usado para qualquer outro motivo. Nós também somos
consagrados a Deus pelo batismo e, nesse clima de santidade, não podemos deixar
que outro “poder” a não ser Deus tome conta de nossa vida; ou seja, não podemos
mais pecar, pois com o pecado estamos negando nossa consagração.
Enfim, lembro também que santificar-se, mais do que “ficar
sem pecado”, é, essencialmente, recomeçar sempre, sem nunca desanimar, a cada
queda. O papa Francisco diz que devemos pedir sempre a Deus que nos dê a graça
de nos acharmos pecadores!
1ª
TESSALONICENSES 2,12
“Deus vos
chama ao seu Reino e à sua glória”
1ª Pedro
5,10; “Depois de terdes sofrido um pouco, o Deus de toda a graça, aquele que
vos chamou para sua glória eterna em Cristo, vos restaurará, vos firmará, vos
fortalecerá e vos tornará inabaláveis”.
O sofrimento oferecido a Deus nos purifica, nos limpa
de toda a mancha e, desse modo, nos torna aptos para o céu.
Diz o Apocalipse 21,27 que nada de imundo entrará na
Cidade Celeste, nenhuma abominação, nenhum mentiroso.
Hebreus 12,10, diz que “Deus nos permite o sofrimento
como purificação, a fim de que possa transmitir-nos sua santidade”. Ou seja, se
um amigo me oferece um vinho fino, devo tirar o chá do copo e lavá-lo bem, a
fim de apreciar a bebida. Assim deve ser em relação a Deus: para recebê-lo,
precisamos nos purificar, e isso se torna possível pela oração, pela caridade e
pelo sofrimento. Depois de um tempo de sofrimento aceito e oferecido, nos
perdoará e nos tornará inabaláveis, capazes de suportar tudo com alegria e em
comunhão profunda com Ele.
Deus nos chamou desde toda a eternidade para uma vida
eterna, para partilharmos de sua glória. Quer mais do que isso?
Entretanto, para participarmos de seu Reino de Glória,
é preciso querermos, desejarmos, aceitarmos.
Vamos ver exemplos de chamamento de pessoas que
aceitaram:
Isaías
6,1-8: Isaías foi chamado, perdoado
de seus pecados e aceitou o convite, mas antes reconheceu-se pecador diante de
Deus, que o perdoou.
Jeremias
1,4-10- Na vocação de Jeremias, ele
também se reconheceu indigno e pecador, mas também foi perdoado por Deus e
atendeu ao chamado.
Gênesis
12,1-6- Na vocação de Abraão, nosso
primeiro pai, não havia mais ninguém que acreditasse no único Deus, mas, como
diz Romanos 4,18, Abraão “acreditou
contra toda a esperança”. Em Hebreus capítulo 11 todo, vemos um grupo
enorme de pessoas da Bíblia que creram e pela pura fé aceitaram o caminho,
aceitaram o chamado que Deus lhes fez.
No Novo Testamento esse número é ainda maior, como
João Batista, Maria, José, Isabel, Zacarias, os apóstolos, os discípulos
inúmeros de Jesus.
E nós? Será que estamos reconhecendo-nos pecadores,
pedindo perdão e aceitando o chamado?
NO NOVO
TESTAMENTO
Romanos 11,29: “Os dons e a vocação de Deus são sem
arrependimento”. Ou seja: por mais injustos que lhe sejamos, Deus não volta
atrás em relação ao chamado que nos fez, primeiro, pelo Batismo, a sermos
verdadeiros discípulos de Jesus e entrarmos em seu Reino; depois, por meio da
vocação que nos deu.
Paulo disse isso para dizer aos hebreus que, apesar
deles não terem aceitado Jesus, Deus ainda os ama e os aguarda.
Quando por fraqueza pecamos, não podemos desanimar nem
desistir: Deus continua a nos amar e quer que recomecemos nossa vida, a fim de
podermos atender ao seu chamado de amor.
VOCAÇÃO DE
PAULO
Atos 9,1-19 (leia o trecho todo, por favor. Clique
aqui:
Foi uma das mais bonitas. Paulo perseguia a Igreja,
mandando prender e até levando à morte os cristãos, como ele mesmo conta em 1ª
Coríntios 15,9: “Pois sou o menor dos Apóstolos, nem sou digno de ser chamado
apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus”.
Jesus lhe apareceu e perguntou: “Saulo, Saulo, por que
me persegues”? (Atos 9,4). Essa pergunta de Jesus nos leva a um outro ensinamento:
perseguir ou maltratar os cristãos é o mesmo que perseguir Jesus, o que leva a
consolidar o que ele dizia, ou seja, que quem o ama, ama os irmãos. Nosso amor
a Deus é praticado no amor ao próximo (leia a 1ª carta de João. É só clicar
aqui):
A que vocação Deus nos chamou? Nós a seguimos ou a
abandonamos? Lembre-se de que, se a abandonamos, Ele não se arrependeu de
ter-nos chamado e ainda nos acolherá, se pedirmos perdão e quisermos retomá-la.
São Paulo reconheceu o chamado de Deus e seguiu Jesus,
mudando 180 graus a sua caminhada. Veja em Gálatas 1,15: “Quando, porém, aquele
que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça...”
VOCAÇÃO DE
JOÃO BATISTA
João 1, 6: “Houve um homem enviado por Deus. Seu nome
era João”. Lucas 1,15-17 fala sobre a vocação sobre o chamamento de João
Batista: “Ele será grande diante do Senhor (...), ficará pleno do Espírito
Santo (...) e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus (...)
para preparar ao Senhor um povo bem disposto”.
João Batista viveu uma vida austera e foi elogiado
pelo próprio Jesus em Lucas 7,24-30 ou Mateus 11,7-15: “Que fostes ver no
deserto? Um caniço agitado pelo vento? (...) Um homem vestido de roupas finas? (...)
Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e mais do que um profeta (...). Dentre os
nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior do que João Batista”.
Eis o “retrato” de João em Mateus 3,4-12: “João usava
uma roupa de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins. Seu
alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre”.
João acreditava no que falava, e praticava o que
ensinava. Ele foi um dos que disseram um “sim” pleno a Deus pelo chamado, pois
sabia que nenhum bem ou prazer da terra sequer se parecem com as alegrias que
nos esperam no céu. A vida austera vale a pena! Foi seguida também por Jesus,
de maneira inigualável e só de longe imitável. Ele podia viver na riqueza, mas
escolheu uma vida pobre e austera, como a de João.
Se Deus (Jesus) escolheu essa vida é porque é a única
que nos pode fazer felizes.
VOCAÇÃO DE
PEDRO
Em Lucas 5,1-11, Jesus, tendo acabado de falar,
sentado num dos barcos, o de Simão Pedro, pediu que fossem pescar. Pedro
lembrou-lhe que haviam tentado pescar a noite toda, em vão. Mas ele obedeceu a
Jesus e lançou a rede. Apanharam tantos peixes que as redes até se rompiam.
Simão Pedro, assustado com tal poder, atirou-se aos pés de Jesus dizendo:
“Afasta-te de mim, Senhor, porque sou pecador!” E Jesus lhe disse, no versículo
10:”Não tenhas medo! Doravante sereis pescadores de homens!”
Isso nos ensina a confiarmos na Graça divina, que
suplantará nossas deficiências e fraquezas. Não podemos alegar nenhuma desculpa
para seguirmos nossa vocação.
Isaías (6,1-8), por exemplo, quis se esquivar do
chamamento que Deus lhe fizera, alegando não saber falar e ter os lábios
“impuros”; Deis fez um sinal ao anjo do incenso, que “queimou”, ou seja,
purificou os lábios do profeta, e em seguida lhe falou: “Pronto! Agora você
está purificado!” E lhe disse o que teria de fazer no seu ministério.
Quantas vezes nós demos desculpas a Deus para não
enfrentarmos algum apostolado que Ele nos pediu?
VOCAÇÃO DOS
DEMAIS APÓSTOLOS
As de Pedro, André, Tiago (filho de Zebedeu), João
(seu irmão), estão contadas em Mateus 4,18-22: “Eles, deixando imediatamente o
barco e o pai, o seguiram”. Seguir Jesus implica em deixar todo o resto, até a
família: “Deixaram (...) o pai”.
A vocação de Mateus está contada em Mateus 9,9. Veja o
texto que escrevi sobre isso clicando neste linK:
Mateus deu uma festa para comemorar sua conversão e
talvez para despedir-se de seus colegas publicanos (cobradores de impostos).
Será que nós temos coragem de deixarmos nossa comodidade para obedecermos ao
chamado de Deus? Veja a festa e o problema que ela ocasionou em Mateus 9.10-13.
E sabemos que essa reunião foi feita na própria casa de Mateus em Marcos 2,15
(ele era chamado também de Levi).
Jesus não se preocupa em ser taxado de “impuro”, por
ter tomado refeição com os pecadores. Ele quer salvar-nos e enfrenta qualquer
coisa para conseguir isso, No nosso dia-a-dia também: muitas coisas que nos
ocorreram, talvez tenhas sido permitidas por Deus para nossa salvação, para que
ele possa nos receber no céu.
Em Mateus 10,1-42, Jesus orienta os já chamados 12
apóstolos para a missão de anuncia-lo. Lembra-lhes as alegrias e os percalços
que essa missão lhes irá trazer e que sejam simples e pobres.
A orientação, como sempre, é a da simplicidade de
vida, da pobreza, da humildade, e da convicção do quer se prega. Sobretudo, que
se procure praticar o que se prega.
OUTRAS
CONVERSÕES
Os Atos dos Apóstolos narram inúmeras outras
conversões, como a de Cornélio (cap. 10), Priscila e Áquila, Apolo, e podem ser
“saboreadas“ na leitura diária da Bíblia. A orientação é esta: ouvirmos a
palavra de Deus, orarmos sobre ela, pedindo a inspiração divina, seguirmos a
vocação a que fomos chamados (as).
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