terça-feira, 10 de dezembro de 2024

ORAÇÃO:COMO DEVE SER


A ORAÇÃO DO POBRE

22/03/2021

(Refeito a partir de um texto que escrevi e publiquei numa revista em março de 1985).

Vivemos numa sociedade cada vez mais científica, computadorizada, uma sociedade louca, que corre em busca de comodidade, de prazer, de matéria. Uma sociedade em que a exatidão das respostas vê-se frente a frente a perguntas sem nenhuma resposta.

Esta é uma sociedade que não acredita em fraternidade universal, pelo simples fato de que isso parece utopia, coisa não científica, um sonho irrealizável.

Esta, enfim, é uma sociedade que não confia mais na oração, mas simplesmente na ação, por mais absurda e ineficaz que possa ser.



A ORAÇÃO AO PÔR-DO-SOL

E enquanto penso isso, um outro pensamento se aloja em minha mente: lembrei-me de uma das palestras que o grande pregador falecido recentemente aos 103 anos de idade, Arturo Paoli, fez num retiro para sacerdotes: ele disse que na Venezuela, onde então morava, conheceu uma senhora que vivia o dia todo atarefada com os seus inúmeros filhos, com o serviço de casa, com o esposo, que apesar de trabalhar de sol a sol não ganhava o suficiente para viver com a família numa vida digna.

O Arturo estava curioso em saber de onde ela tirava tanta força para exercer toda essa atividade, sem desânimo e com toda aquela alegria e amor. Numa de suas visitas, perguntou-lhe isso. A mulher, após muita insistência, enxugou as mãos com o avental e, com aquele sotaque peculiar de descendente do povo nativo do lugar, revelou-lhe o segredo: “Padre, todos os dias eu largo tudo, ao cair da tarde, para contemplar o pôr-do-sol. E me lembro de Deus, e procuro ouvir o que Ele tem a dizer para a minha vida. São momentos em que realmente me desligo de tudo o que tenho ainda por fazer. Para mim, é o momento mais sagrado do meu dia”.

Deus é tão simples! E é extremamente simples a oração do pobre. Aliás, a primeira condição para nos aproximarmos de Deus na oração é justamente essa: a de nos fazermos pobres, desarmarmo-nos de nossos preconceitos, de nossos estudos, de nossos conhecimentos científicos, de nossas ambições, de tudo o que possa parecer artificial em nossa conduta.

O Arturo falava assim: “Lendo o Evangelho, notamos a repugnância, a alergia de Jesus a tudo o que é teatral, artifício, falsidade. Não há nada tão evangélico e cristão como a aceitação profunda da vida. Jesus aceita tudo o que é humano com cordialidade e para sempre” (A.Paoli, “A Construção do Reino”, Ed. Paulinas, 1971, página 52).

Eu comparo a oração, assim pensada, ao nosso relacionamento com nossos pais e, sobretudo, com nossa mãe: por mais estudados e conhecedores de tudo que sejamos, sempre sermos “crianças” para nossa mãe. A linguagem que usamos com ela não é a adquirida pelos anos de estudo, mas aquela mesma com que a chamávamos para “xingar aquele menino que brigou comigo na rua”.



UMA ORAÇÃO SINCERA

Assim deve ser o nosso relacionamento com Deus. Uma oração adulta, é claro, mas que provenha de pessoas sinceras, que reconhecem suas fragilidades e seus pecados. Estamos sempre engatinhando nos caminhos da fé e do amor... e por mais que progridamos no caminho da fé, sempre nos resta ainda um longo caminho a percorrer. Nunca seremos suficientemente maduros e completos para o Reino de Deus. Só a misericórdia de Deus pode nos fazer isso.

Mesmo nossas relativas “dignidades” terrenas não nos tornam privilegiados na oração a Deus. Jesus disse: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25b).

E ainda: “Aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo” (Mt 20,26b-27).

Deus não faz diferença no modo de tratar as pessoas. Todos nós somos amados por Ele de modo igual, quer sejamos padres, bispos ou leigos, Deus me conhece profundamente, como se eu fosse a única pessoa na face da terra. Quando eu estou diante dele, em oração, sozinho no meu quarto, eu não sou o ilustríssimo Fulano de Tal, ou o digníssimo Sicrano, ou o excelentíssimo Beltrano, ou o doutor Cicrano, mas somente um pecador que ainda não é digno do Reino de Deus, que está engatinhando na fé, que jogou fora tantos anos de vida atrás ou de ninharias, ou de honras, ou de títulos, ou de dinheiro, ou de prazeres, ou de vaidade, ou de vingança...

Deus nos conhece profundamente. Agora mesmo, se você olhar bem em sua volta, procurar bem, vai encontrar uma formiguinha atarefada no seu trabalho diário. Essa formiga, que você nem sabia que existia, já era conhecida de Deus. Ele sabe até quantas folhas ela já levou ao formigueiro, até quantos passos ela deu em toda a sua vida de algumas semanas. Ora, se Deus conhece assim uma simples formiga, que você mata até sem querer, quanto mais empenho não terá conosco, que somos não apenas suas criaturas, mas seus filhos adotivos e fomos motivo de sua morte na cruz?

Quando formos rezar, hoje, lembremo-nos bem disso! Nós somos conhecidos profunda e detalhadamente por Deus. Não é preciso, então, mostrar-lhe nossas “credenciais”. Não é preciso enchermos nossa oração de palavras, que muitas vezes pronunciamos mecanicamente, sem senti-las. Basta que entremos em contato com Ele, não tanto para que Ele sinta o nosso amor, pois Deus sabe disso também, mas para que sintamos o amor dele. Nosso silêncio será o caminho que Jesus se utilizará para entrar em contato conosco. Mais do que nunca, então, sentiremos o amor de Deus a invadir nosso ser, nossa vida.



O SILÊNCIO

Sobre esse silêncio há várias coisas a dizer: há um silêncio exterior e um silêncio interior. Muitos estudiosos do assunto distinguem ainda outros tipos de silêncio, mas não vêm ao caso aqui.

O silêncio exterior e do corpo ajudarão em muito o silêncio interior, do coração, necessário à oração. Nós não somos anjos, puros espíritos! Somos um ser único, corpo e alma. Ora, faz-se necessário um ambiente propício à oração, para que todo nosso ser mergulhe nela.

Um autor fala que “há muito maior capacidade de produção e de rendimento (em relação à oração) num ambiente que respira tranquilidade” (Ladislau Boros,”Cristo e os homens diante da tentação”, Ed. Paulinas, 1974, pág. 9).

Segundo Galileia fala a esse respeito: “Para que a oração realmente tome conta de uma pessoa que procura relacionamento com Deus, não podemos, evidentemente, subestimar as disposições ou, digamos, toda a expressão corporal” (Segundo Galileia, “Contemplação e Engajamento”, Ed. Paul, 1976, pág. 14).

O próprio Jesus escolhia os lugares certos e as horas mais propícias para a oração. Mesmo Ele via a necessidade de estar num ambiente de deserto para encontrar-se em oração com o Pai.

Infelizmente, o silêncio absoluto nunca conseguiremos, por mais silencioso esteja o ambiente, e por mais disciplinado esteja o nosso corpo. É preciso um silêncio interior, do coração. Os ruídos das distrações que nos embraçam durante a oração, provêm das nossas paixões, de nosso coração tão dado a futilidades. Mas precisamos, com luta e nosso esforço, encontrar uma atmosfera de deserto, tanto externa como internamente, a fim de que nossa oração seja eficaz e nos leve realmente a Deus. Com certo treino, conseguimos um clima de deserto até num ônibus lotado, em que o cobrador (ou trocador) e um passageiro brigam por causa do troco.

Segundo Galileia fala, em geral, sobre as distrações: “As distrações não nos devem impressionar. O que importa é a eficácia do trabalho do Espírito Santo em nós. As distrações dizem respeito à parte afetiva do nosso ser e nelas emerge tudo quanto nos ajuda a conhecer melhor. Nos momentos de distração afloram as mais profundas motivações do nosso subconsciente, as pessoas, os problemas que nos preocupam. Devemos, pois, confiar todas essas coisas ao Senhor e dar conta delas na nossa vida” (idem, ibidem, pág. 15).

Nós precisamos, no instante da oração, procurar tirar do coração tudo o que poderia ser um obstáculo à vinda do Senhor, como dissemos acima, quando falei do despojamento. Entretanto, é bom lembrar que esse despojamento, essa atitude de acolhimento a Deus, está em dependência direta como resto de nossa vida. É o que nos diz Jesus: “onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6,21).

Aos poucos esse despojamento vai se alastrando por toda a nossa vida, até ser uma constante, não só em nossa oração, mas no nosso dia a dia. Vamos, aos poucos, descobrindo tantas vaidades, tanto trabalho inútil, tanta luta por coroas de “louro” que murcham. São Paulo Apóstolo diz que devemos trabalhar não por coroas de louro, que murcham, mas por uma coroa que nunca murcha (imarcescível) de glória, que só Cristo pode nos dar (I Cor 9,25; 1Pedro 5,4).



FALTA DE ASSUNTO

Outro problema que atinge muitas pessoas é a falta de assunto nas orações espontâneas. O que dizer?

Se não soubermos o que dizer, escutemos o que Deus quer nos falar. Mas se sentirmos necessidade de dizer alguma coisa, podemos nos utilizar de fórmulas de orações antigas, ou mais modernas, mas de tal modo eu elas se tornem nossas, e apenas sejam utilizadas para ajudar em nossas ideias.

Modifiquemo-las de acordo com nossas preocupações daquele momento. Podemos também ler um trecho da Bíblia e, ao chegarmos a uma frase que nos chama a atenção, usemo-la na oração. Meditemos sobre essa frase, podemos colocá-la também no contexto de nossa vida.

As fórmulas não têm valor em si mesma. Não existem “orações poderosíssimas”, como lemos na mídia. O poder de tal ou qual oração depende não do texto, mas de nossa fé, de nosso despojamento, de nossa humildade e de nossa necessidade em relação a Deus.

Na oração há dois parceiros: Deus e nós. Deus, na pessoa de Jesus, que é onipotente, onisciente e tudo o mais, despojou-se de tudo isso e de todos os seus privilégios e, diríamos, de suas “mordomias” como Deus, no céu, para ser um homem simples, fraco e mortal aqui na Terra, apesar de não ter deixado, nem um só instante, de ser Deus, a fim de encontrar-se conosco e nos salvar.

Ora, Ele tem todo o direito de exigir o mesmo de nós, que somos o segundo parceiro da oração. Com uma grande diferença; Jesus, que se despojou de seus privilégios concretos, autênticos, pede de nós o despojamento de privilégios falsos e ilusórios, nem um só momento autênticos!

Veja a parábola do fariseu e do publicano em Lucas 18,9-14: O fariseu não quis se despojar de seus falsos títulos, de suas falsas ações e deu-se mal: o publicano despojou-se até de sua dignidade de homem, e levou a melhor. Deus ouviu a sua oração.



AÇÃO-ORAÇÃO

Resta-nos um problema: a relação ação-oração. Alguns acham, erroneamente, que tudo o que fazem é oração e, portanto, não precisam dedicar-se um tempo específico à oração pessoal. Isso é um erro tremendo, que nos leva a ações perigosas. O Beato Carlos de Foucauld resume bem essa questão nestas palavras: “Não devemos nem agir sem oração (isso nunca) nem rezar sem agir, quando temos meios de fazê-lo; mas devemos agir rezando, ou contentarmo-nos em rezar se não tivermos qualquer meio de agir” (C. F. “Meditações sobre o Evangelho”, Livraria Morais Editora, 1962, pág. 93).

Essa também é a opinião de Arturo Paoli: “Se alguém, desde o início de sua conversão diz eu “tudo é oração”, tornar-se-á fatalmente um diletante, um superficial. A realidade nos sacode, exige que nos ponhamos em movimento, mas é necessário construir alguma coisa em profundidade” (obra citada, pág. 56). E, mais adiante, falando sobre o fato de que os leigos que dirigem o país, além de muitos empresários e demais pessoas importantes na economia e política, muitos deles saíram de paróquias e colégios católicos, mas são atrasados em sua formação social, egoístas de modo radical, injustos, enfim, sem uma vivência religiosa autêntica. E conclui: “Se todos os responsáveis pela evangelização (e nesse caso todos os que “educaram” esses ditos irresponsáveis) tivessem trabalhado menos e rezado mais, sem dúvida a oração os teria levado a serem mais refletidos e mais profundos” (idem, ibidem).

O Pe. René Voillaume fala sobre a suspensão de nossas atividades para momentos de adoração a Deus: “É uma coisa de muito valor ter a coragem e a vontade de parar, mesmo que seja por um instante, as próprias atividades, em homenagem a Deus e para rezar em humilde adoração”. E mais adiante: “Deve significar para nós um reconhecimento do domínio de Deus sobre a nossa vida e sobre todo o universo” (em: “Onde está a vossa fé?”, Ed. Paul. 1976, pág. 167).

A oração profunda e humilde, em que nos despojamos de todo o nosso aparato de ilusões, autodefesa, prepotência, apegos, torna mais profunda nossa ação no mundo de hoje. E mais: torna-nos dóceis, realmente dóceis, para o trato com os irmãos, dando-nos uma paciência incrível para vivermos com as demais pessoas, mesmo com aquelas que achamos serem “chatas” (o que muitas vezes ocorre porque não as conhecemos bem).

Entretanto, se nos dá essa docilidade, não nos tira, mas, pelo contrário, nos enche de vigor para lutarmos contra toda a injustiça e opressão. Dizia o Arturo Paoli: “Minha oração é válida somente se a paixão de Deus, de reconciliar o que está dividido, se torna a minha paixão, se o sofrimento pela discórdia e pela opressão, se torna o meu sofrimento” (em “Caminhando se abre caminho”, Loyola, 1979, pág. 136).

Esse nosso contato diário com Deus por meio de uma oração pessoal tranquila e despojada, vai nos transformar em discípulos fieis de Jesus, que nos disse: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jogo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). Ao mesmo tempo, vai nos transformar em homens e mulheres que, como Ele, combateremos, com vigor, as injustiças e opressões a que estão submetidos os pobres.



NOSSA ORAÇÃO É EFICAZ?

Entretanto, uma pergunta invade nossa mente: “Será que nossa oração é eficaz”?

No Evangelho vemos Jesus falando que a nossa oração será ouvida por Ele. Entretanto, disse aos discípulos: “Até agora, nada pedistes em meu nome” (João 16,26). Ora, os filhos de Zebedeu haviam pedido coisas, assim como os demais. Mas eram orações fúteis e egoístas. Segundo Galilea nos diz: “Terá ainda a oração petitória algum sentido hoje, quando o homem já estende seu domínio sobre as leis da natureza”? (...) “Oramos e pedimos, porquanto sabemos que só Deus pode transformar a liberdade sem jamais aniquilá-la” (obra citada, pág. 11).

Aqui temos que colocar, diante de nós, toda a nossa humildade e todas as nossas limitações e confiar em Deus, que realmente vai nos conceder não talvez o que estamos lhe pedindo, mas o que será melhor para a nossa vida, tendo em vista a vida eterna.

Jesus nos diz: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, lhe será aberto. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? Ou lhe dará uma cobra, se este lhe pedir um peixe? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedem!” (Mt 7,7-11).

Mas veja bem: se o filho pequeno pedir para beber o que há num copo sobre um armário e este for veneno ou bebida estragada, o pai lhe dará um copo de refrigerante ou coisa parecida, mas não lhe dará aquele que ele está pedindo. Assim é Deus: se o que lhe pedirmos vai afastar-nos dele e/ou dos irmãos, não vamos receber a graça que pedimos. Também há esse fato de nossa liberdade. Deus não vai aniquilá-la, como disse acima Segundo Galilea, mas transformá-la, de acordo com a licença que lhe demos, a fim de poder ajudar-nos.

O que temos que fazer é abrimos as portas para o Senhor. Ele respeita a nossa liberdade e só entra em nossa vida se nós quisermos e deixarmos. Estando já conosco e tendo nossa permissão, Ele é que vai decidir quais são as prioridades que devem nortear a nossa vida. A lista de nossas necessidades, de Deus, é diferente da nossa. Ela é feita com amor, sem vingança, sem segundas intenções, sem preconceitos, tão diferente de como fazemos a nossa!



ALGUNS EXEMPLOS ERRÔNEOS DE ORAÇÃO

O Pe. René Voillaume coloca o caso do menino que pede a Deus que caia na prova um ponto fácil, que ele tenha estudado. “Esta não é uma boa oração. Se este menino reza para ter coragem par ao trabalho, para tornar-se mais forte, mais generoso, sua oração acompanha um real esforço de sua parte” (...) “Mas este menino reza sem fazer esforço, e para que seu examinador lhe faça uma pergunta que ele saiba, então, sua oração não tem sentido”! (obra citada, pág. 162).

Outro caso, bem brasileiro: quando o Corínthians Paulista joga contra o Palmeiras, rivais antigos, em ambos os times há torcedores e os próprios jogadores, que rezam para ganhar a partida, e ainda dizem na tevê que Deus os há de ajudar etc. Será que Deus é corintiano ou palmeirense? Essa é uma oração perdida, jogada fora, e até um abuso contra Deus. Se os jogadores pedirem uma boa disposição para o jogo, pedirem coragem, que nenhum mal lhes aconteça, e lutarem para que seja um jogo honesto e justo, talvez Deus lhes conceda essas graças pedidas. Mas para ambos os times. Mas, ganhar ou não, é tarefa que cabe a eles realizarem, com a inteligência e a capacidade que Deus já lhes deu desde a infância.

Outro caso: vou aos franciscanos e peço para benzerem o meu carro. Isso quer dizer que estou me comprometendo a usar esse veículo para o bem, para os meus afazeres, ou lazer, obedecendo às leis de trânsito, e trazê-lo sempre em boas condições de uso. Se eu fizer assim, posso pedir a Deus que me livre de algum acidente alheio à minha vontade ou à minha culpabilidade. Deus poderá atender a esse meu pedido, a não ser que Ele tenha outros projetos para a minha vida. Se eu não cuidar bem do meu carro e não ligar a mínima para as leis de trânsito, a minha oração foi uma afronta para Deus.

Ouro caso ainda é das pessoas que pedem a graça de Deus, mas não praticam sequer um mínimo de religião. Conheci uma senhora que benzia crianças, e morava numa casinha situada nos fundos da igreja. Eu via dezenas de mães desfilarem diariamente pela frente da igreja, trazendo seus filhos para a bênção daquela senhora. Nunca vi uma sequer dessas mães passar pela igreja, entrar nela, para fazer uma oração ao Santíssimo. É claro que Deus ajuda essas crianças, pois elas não têm culpa e Deus não é vingativo. Pelo contrário, é todo misericordioso. Mas ele gostaria muito de receber uma visita delas...

Arturo Paoli diz que: “A oração não é a diminuição do homem: Deus não há de fazer o que me compete fazer. Todavia, a oração me dará lucidez, não me mergulhará na confusão da história. Por meio da oração poderei ser um verdadeiro guia para os outros e não apenas um bom companheiro; um guia que sabe para onde vai” (A Construção do Reino, pág. 56-57).

Segundo Galilea também diz: “A oração não é uma corrida para Deus que nos afasta do homem; ela é um impulso que se desenvolve dentro de nós e que nos diz que a Pessoa que encontramos através dela, devemos, igualmente, encontrá-la no nosso semelhante” (obra citada, pág 11).

É aí que a oração e a ação se unem harmoniosamente, como numa bela sinfonia, e nossa vida ganha espaço rumo à concretização do Reino de Deus.



CONCLUSÃO

Há muitos outros pontos de vista a serem aprofundados, mas este texto já está bastante longo. Sendo assim, vou concluir dizendo, simplesmente, que a oração, para ser oração eficaz, tem que sair de um coração de pobre.

Se eu estiver em pecado, minha oração não vai ser a oração de um pobre. Entretanto, se eu me colocar diante de Deus e pedir-lhe perdão de todos os meus pecados, comprometendo-me a iniciar uma vida nova, com mansidão e humildade de coração, vontade firme de me emendar, aí minha oração será ouvida. O primeiro ato de Deus, a meu respeito, será me perdoar. E, mesmo que eu não perceba a presença de Deus, ele me indicará o caminho a seguir, de alguma forma. Ele me consolará, me aliviará, e as forças voltarão à minha vida, e eu serei capaz de me levantar, de seguir uma vida nova. Tudo isso nos vem com a oração. Eu, então, direi, com o salmista:

“Levanto meus olhos para as montanhas; donde me virá o auxílio? O meu auxílio vem do Senhor, Criador do céu e da terra” (Salmo 120).

Termino com a ORAÇÃO DO ABANDONO, de São Carlos de Foucauld:

“Meu Pai, a vós me abandono. Fazei de mim o que quiserdes. O que de mim fizerdes, eu vos agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo, contanto que a vossa vontade se faça em mim e em todas as vossas criaturas, não quero outra coisa, meu Deus. Entrego a minha vida em vossas mãos. Eu vô-la dou, meu Deus, com todo o amor de meu coração, porque eu vos amo e porque é para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos sem medida, com infinita confiança, porque sois meu Pai. 

Teófilo Ap. de Jesus


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