VIVER COMO EREMITA
(08/05/2019)
Há pessoas que pleiteiam uma vida ente a ativa e a contemplativa. Uma dessas pessoas é o Pe. Bernardim Schellemberger, que foi monge e saiu, tornando-se pároco de uma aldeia periferia da Alemanha. Eis o que ele diz a respeito:
"A pura vida contemplativa facilmente nos leva demais para a inatividade ou, o que falando nos devidos termos, ainda é pior, a nos absorver com atividades objetivas e relativamente fúteis, ameaçando a perda duma visão acurada. Por outro lado, uma vida puramente ativa nos leva, mais dia menos dia, à superficialidade e à ignorância e, finalmente, a um ativismo estéril". Bernardim Schellemberger, monge trapista alemão exclaustrado e pároco de uma aldeia de periferia da Alemanha.
"A pura vida contemplativa facilmente nos leva demais para a inatividade ou, o que falando nos devidos termos, ainda é pior, a nos absorver com atividades objetivas e relativamente fúteis, ameaçando a perda duma visão acurada. Por outro lado, uma vida puramente ativa nos leva, mais dia menos dia, à superficialidade e à ignorância e, finalmente, a um ativismo estéril". Bernardim Schellemberger, monge trapista alemão exclaustrado e pároco de uma aldeia de periferia da Alemanha.
E você, amigo(a), o que acha dessa ideia dele? Pode ser verdadeira!
O (a) eremita deve não só ter momentos de oração em sua vida, mas fazer de sua vida uma oração. Sto. Agostinho diz que isso acontece quando nos preocupamos em estar em estado de graça e oferecermos tudo o que fazemos a Deus. Lembre-se o(a) eremita que nesses momentos de oração está ligado a toda a Igreja orante. Não está sozinho(a).
O (a) eremita deve ter uma regra pessoal que regule sua vida de silêncio com sua vida social, a fim de que nenhuma das duas extrapole o necessário e o desejado para se cumprir o propósito dessa vocação.
Sem uma vida de silêncio como a de Maria não vai ouvir Deus lhe falando ao coração, como Maria tão bem o soube fazer. Deve buscar em tudo a santidade. A fraternidade, cordialidade, sensatez, sobriedade, caridade evangélica, humildade, misericórdia, paciência, devem estar presentes em todas as suas atitudes para com as pessoas. Os contatos a todos os níveis: cartas, telefone, tevê, saídas, devem ser sempre controlados pela sua sensatez e busca do paraíso, de modo a não quebrar sua vida de contemplação.
Acredito que o (a) eremita possa participar de algum grupo da comunidade, que não lhe tome muito tempo. Isso o (a) ajudará muito na compreensão da espiritualidade cristã e no relacionamento com os irmãos, evitando que sua solidão se torne algo doentio. Não aconselho a catequese, pois esta envolve muito a pessoa.
Quanto à presença de pessoas em sua casa, o (a) eremita deve tomar muito cuidado. No judaísmo e no cristianismo primitivo a hospedagem era a estrela maior da vida de alguém que buscasse Deus. No caso do (a) eremita, receber muitas vezes pessoas no eremitério pode ser um fator de dissipação da vida de oração e de silêncio, mas a caridade, como diz o próprio Jesus, é maior do que todas as virtudes. Se for por caridade, não vejo nenhum problema. Entretanto, deve conseguir um modo de ajudar as pessoas sem que elas estejam a todo o momento em sua casa.
Quanto à penitência, cada um (a) veja o que pode fazer. A Igreja pede que façamos penitência em todas as sextas-feiras do ano. Nossa Senhora, em Medjugorje, pede que jejuemos a pão e água nas quartas e nas sextas, pela conversão dos pecadores. Se você não consegue fazer isso, veja outras penitências que possa fazer e substitua esse jejum por elas. Mas é preciso fazer penitência. Faz parte da vida eremítica.
A penitência agrada a Deus, ajuda na conversão dos pecadores, nos santifica, nos fortalece para a luta contra as tentações e nos dá um maior preparo para caminharmos na santidade.
Pobreza: estilo de vida pobre em tudo, simples, limitando-se aos gastos necessários. Não buscar comodidades desnecessárias. Não ficar dependente de companhia. Estar ligado (a) ao famoso lema beneditino: “Ora et Labora”: reze e trabalhe.
Para isso tudo, fazer um horário pessoal e segui-lo o melhor possível, não dando nenhum espaço para o ócio.
O(a) eremita deve conseguir um(a) diretor(a) espiritual que o(a) auxilie na caminhada e evite que sua vida se torne falsa, só aparente. A vida do (a) eremita deve pautar pela autenticidade e santidade. Ou se é ou não se é eremita. Não deve existir meios termos: “parece que é mas não é”.
Seria bom fazer algum tempo de experiência em algum mosteiro. Há vários tipos de mosteiro que aceitam hóspedes temporários. Neste blog há o relato de um amigo que fez 4 meses de experiência num mosteiro Cisterciense. Se quiser ler o relato, clique aqui: EXPERIÊNCIA CISTERCIENSE
Estudar sempre a Bíblia e os livros de formação humana e religiosa. Ler sempre leituras espirituais. Sobretudo, refletir diariamente sobre as leituras da Missa. Essa formação deve ser permanente, sem tréguas e sem desânimo.
TEXTO PARECIDO, MAS COM ALGUNS ELEMENTOS A MAIS:
PLANEJAMENTO
Em primeiro lugar a pessoa que quer se tornar eremita deve refletir muito se tem verdadeira vocação para a vida contemplativa ou está apenas fugindo dos seus problemas pessoais ou dos problemas sociais.
Ser eremita não é fugir da realidade. Não é um simples isolamento da vida social. Há muita ilusão nesse campo. Muitas pessoas se imaginam, ao morar sozinhas, que não têm problemas físicos ou psíquicos, imaginam que não têm nenhuma responsabilidade em relação a outras pessoas etc.
Se você morar numa cidade, não há como ficar completamente isolado (a). Aliás, nem sei se é saudável se isolar completamente. São Bento, o “pai dos monges”, viveu como eremita vários anos e percebeu que as pessoas não devem morar completamente sozinhas. Fundou, então, mosteiros, que conhecemos como “beneditinos”. Aos poucos surgiram também ordem monásticas de eremitas, que, apesar de eremitas, tinham sempre algum encontro diário, principalmente para as orações comunitárias. Moravam em celas ou casinhas isoladas.
São Basílio Magno (329-379), São Bento (480-547) e Thomas Merton (nasc.31/01/ 1915, Prades, França; Falecimento: 10/12/1968, Banguecoque, Tailândia), diziam que a vida cenobítica (=vida comunitária) é superior à vida anacorética (=vida solitária, eremítica), pois precisamos estar em contato com outras pessoas para exercitarmos o amor cristão (a Deus e ao próximo), em que nossos erros são apontados e vençamos a nossa autossuficiência. “Precisamos uns dos outros” (S. Basílio).
Paulo Donizeti Siepierski, em seu livro “A leitourgia libertadora de Basílio Magno”, ed. Paulus, 1995, diz, à página 45, citando Julien Leroy, quais eram os objetivos dos monges dos primeiros séculos do cristianismo:
“A obediência aos mandamentos do Senhor leva a um monasticismo claramente marcado pelo espírito de pobreza e simplicidade, pelo senso de serviço aos outros através de tarefas humildes, pelo trabalho árduo para ganhar a comida (...) e para estender nossas mãos aos pobres,(...) pelo ascetismo rude, inspirado somente pelo amor de Cristo, e as reivindicações de seus mandamentos, por oração contínua nutrida pela meditação nas palavras da Escritura, por algumas observâncias, também marcadas pela influência do evangelho” (Julien Leroy, citado à página 45 ).
No texto acima vemos como os que estão dispostos (as) a viver esse tipo de vida devem comprometer-se seriamente a viver uma vida cristã e consagrada, de oração contemplativa, de silêncio, solidão, austeridade, pobreza, castidade, e de estar sempre disponível a Deus e à Igreja. A vida eremítica não é uma aventura, ou um tipo de férias, ou fuga da realidade. É, na verdade, uma imersão na realidade, uma partilha da vida divina com todos os demais, mais com o exemplo de uma vida santa do que com as palavras.
Se você escolheu ser eremita autônomo deve ver se vai viver no ambiente rural ou urbano. As necessidades são diferentes para um e outro. Essa vida de silêncio e de contemplação, deve levar o(a) eremita a escutar a Palavra, esteja onde estiver (no ambiente rural, mais isolado, ou na cidade).
Na cidade você pode contar com as marmitex para quando não puder cozinhar, luz, internet, água encanada etc. Pode morar numa casa ou numa quitinete. Pode andar a pé ou de ônibus. Se estiver na cidade, deve transformar sua casa num deserto, por meio de suas renúncias.
No ambiente rural você não tem tudo isso, mas pode cultivar uma parte da sua alimentação. Atualmente também nesse ambiente há muitas facilidades que anos atrás não havia.
Para viver melhor a sua vida de eremita, se puder, encontre um lugar oculto ou afastado, sem barulho, preferivelmente pequeno, simples. Se não puder, encontre um meio de se isolar do barulho e da vizinhança nos momentos de oração.
Não é proibido a um (a) eremita utilizar a internet. Eu mesmo tenho de usá-la bastante, para editar os meus blogs e sites. Mas deve ter muito cuidado para não se viciar nisso e não deixar a oração e as horas de descanso por causa dela. Se tiver televisão, nunca veja novelas e programas sem conteúdo que não trazem nenhum valor para a vida.
Quanto a convencer os familiares sobre sua opção, esqueça. Isso vai demorar anos. Tente explicar para eles a experiência que você vai tentar fazer e lembre-lhes de que nunca os abandonará... Aliás, se você tem a ideia de abandonar a tudo e a todos, pode ser que esteja com algum probleminha psicológico (para não dizer mental). É melhor pensar bem se você não está tentando fugir do mundo. Lembre-se de que podemos fugir de muitas coisas, mas NÃO PODEMOS FUGIR DE NÓS MESMOS! Não é normal nem saudável para uma pessoa nunca mais querer ver os familiares.
O problema é que a pessoa que sofre de algum distúrbio mental nunca toma consciência disso. Esse é um grande problema. Por isso, seja sincero (a) consigo mesmo (a) e, se tiver alguma dúvida, consulte um psicólogo para checar sua psique.
Se você já decidiu ser eremita, pense em como irá se sustentar e ter alguma economia guardada. Não vá dar uma de São Francisco de Assis, pois estamos num outro tempo. Hoje não dá para viver de esmolas. Seria mau exemplo, e não evangelização como no tempo dele. O correto é viver de algum trabalho. Se for artesanal, feito em casa, melhor para você.
Eu conheço homens que trabalham com crochê. Eles põem um cabo de madeira na agulha e a seguram como uma chave de fenda. E dá para viver disso!
Procure algum modo de pagar o INSS, a fim de que possa um dia receber a aposentadoria. Lembre-se de que você vai envelhecer...
Outro passo em sua vida é desconectar-se dos bate-papos das redes sociais e só manter as que você usa para evangelização. Não utilize a internet nem a tevê para assuntos banais e que não possuem nenhum teor religioso e meditativo. Use-a, por exemplo, para entrar em contato com outros eremitas e com publicações sobre esse assunto.
Entretanto eu, pessoalmente, não vejo problema se você reservar um dia na semana, talvez no sábado ou no domingo, para ver algum programa de lazer, um filme, um documentário, pelo menos no início de sua vida eremítica. Acho que todo o exagero é perigoso. E, no dia a dia, procure manter-se informado (a) do que acontece no mundo. Abandone as notícias de fofocas, por exemplo, sobre artistas. O princípio é abandonar tudo o que possa dissipar você e o (a) afastar da contemplação. Inclua os problemas mundiais em suas orações. Sobretudo, siga as orientações do (a) seu (sua) diretor (a) espiritual.
Outra coisa necessária é que você deve bastar-se a si mesmo (a) em muitas coisas: saber cozinhar (muito importante), costurar (para consertar roupas), lavar roupas etc.
Quanto aos exercícios físicos, são muito importantes para a saúde. Adquira o costume de, por exemplo, caminhar pelo menos meia hora por dia. Pode aproveitar para rezar o rosário...
É importante, também, que você se aceite como você é. Goste de si mesmo(a). Lembre-se de que você vai conviver consigo mesmo (a) e talvez só consigo mesmo (a) pelo resto de sua vida!
Consiga também alguém com quem contar para as horas de necessidade, de doença. Por isso é que é importante não se isolar completamente. Homem algum é uma ilha, já repetia Thomas Merton, que pegou, por sua vez, essa frase, de outra pessoa. Mantenha contato com ele ou ela pelo telefone.
VESTUÁRIO
Que seja simples. O (a) eremita autônomo, na minha opinião, não deve usar hábito, pois não é consagrado publicamente. E a roupa que usar não deve mostrar ostentação nem ser muito variada. Limite-se ao básico. Também há o fato de que devemos viver de modo escondido, o que não é possível com o hábito. Se para você isso for tão importante, use um tipo de uniforme, que dispensa as dúvidas de o que usar e quando.
Há um bispo que diz que alguém que use hábito indevidamente pode ser até preso! Eu não chequei essa notícia, mas a minha opinião é que, se você escolheu ser eremita autônomo, não use hábito. Sei que há outras opiniões por aí, mas a minha é essa.
Enfim, faça uma regra, mostre-a ao seu (à sua) diretor (a) espiritual e a siga! Se quiser, tenho uma regra que eu mesmo escrevi neste blog (ou site). Procure lá no índice!
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