31/10/2022
Nós admiramos muito os santos mártires, que enfrentaram fogo, animais, espadas, com muita paz e oferecimento de si próprios, por amor a Deus.
Nestes dias, em minhas meditações, algo está martelando a minha cabeça: a castidade pode ser comparada, com toda a certeza, com um martírio! E é um martírio secreto, pois dentre todos os vícios, o que mais se pode esconder são os que vão contra a castidade, a não ser que haja uma gravidez decorrente de algum relacionamento íntimo, ou alguma coisa desse tipo.
Como podem as pessoas saberem se estamos guardando a castidade? Na maioria das vezes, não há como.
Guardar a castidade significa estar constantemente em luta, luta contínua, acirrada. Um pequeno deslize pode ser a causa da ruína total de uma pessoa que esteja lutando contra si mesmo para ser casto(a).
Como eu já disse em outro artigo, a castidade nos traz muita paz e tranquilidade interiores. As pessoas que não a guardam estão sempre ávidas de prazer, de um prazer que nunca se sacia e que nos traz muitos aborrecimentos, angústias, desânimos, falta de interesse pelas outras coisas e assim por diante. Muitos até cometem suicídio, tal o desespero que corrói seu interior.
Outra vantagem da castidade é que perdemos o interesse individualista pelas pessoas, ou seja, deixamos de desejar as pessoas para nosso prazer. Quem não guarda a castidade geralmente faz uma seleção de pessoas de seu convívio: escolhe sempre as que mais o(a) atrai, fazendo pouco caso nos mais idosos, nos menos prendados esteticamente falando etc. Quem guarda a castidade não faz acepção de pessoas: ama a todos e a todas igualmente, sem interesse sexual por nenhuma. É claro que, muitas vezes, as pessoas castas sentem atração por este ou aquele tipo de pessoa, mas como está acostumado(a) a guardar a castidade, sabe como controlar seus instintos.
A convivência das pessoas castas é universal, ou seja, abrange pessoas de todas as idades, tipos, mesmo sendo esteticamente desfavoráveis, porque não olha o corpo e o porte físico delas, mas sim, o interior.
É incrível como passamos a conhecer melhor as pessoas quando excluímos de nossa mente qualquer interesse sexual por elas! Descobrimos o que há por dentro daquela beleza exterior toda, ou por dentro daquela “feiura” exterior toda. E muitas vezes nos espantamos pelo fato de nunca termos antes visto essa beleza interior naquela pessoa.
Isso é tão verdade que certa vez perguntaram a um sacerdote a cor da empregada dele. Ele precisou pensar, porque nunca havia reparado se ela era mais para o negro do que para o branco, ou vice-versa. Sua amizade por ela era acima de qualquer interesse corporal. A sua empregada era morena. E ele só descobriu isso depois de vê-la, após essa pergunta que lhe fora feita.
É maravilhoso ser casto(a). Deus se apresenta a nós com maior intimidade, com maior amizade, e Maria também. Nosso Anjo da Guarda se mostra mais ativo em nossa vida, e uma alegria interior cresce a cada dia. Nós nos sentimos livres, seguros, e as cores do universo se tornam mais coloridas, mais fortes. Começamos a perceber a beleza das pessoas e da natureza de forma diferente do que em nosso tempo talvez de não-castidade.
Há muitos santos e santas que viviam uma vida até devassa, nesse ponto, mas se converteram e se tornaram santos felizes, amigos das pessoas, muito procurados. Um deles é São Carlos de Foucauld. Quando mais jovem, sem fé alguma, ele tinha uma amante francesa chamada “Mimi”. Vejam só! Ele era milionário, participava de festas o tempo todo, mas se enjoou disso. Começou, então, a pedir a Deus: “Meu Deus, se vós existis, fazei-me acreditar em vós!” E a graça foi-lhe concedida. Desde que ele passou novamente a acreditar em Deus, não conseguiu viver outra vida que não fosse uma dedicação plena a Ele. Entrou numa Trapa (mosteiro rigoroso), mas saiu de lá porque queria viver uma pobreza maior, e acabou indo viver no deserto do Saara, em Tamanrasset, com o povo mais atrasado do mundo naquele tempo: os tuaregues. E aí, foi feliz. Casto e pobre. Quando era devasso e rico, era infeliz. Morreu assassinado por um jovem maometano, que disparou sem querer a arma quando o segurava, numa invasão de um grupo à sua casa, no dia 01/12/1916, aos 58 anos.
Nós talvez não morramos mártires, mas podemos, sim, abraçar esse martírio diário da castidade. É um martírio silencioso, ninguém vai ficar sabendo com certeza se somos ou não castos, mas Deus, Maria e nosso Anjo da Guarda vão saber. E vão nos apoiar e nos paparicar. Ô coisa boa! (como diz sempre o dom Angélico, bispo emérito de São Paulo).
A CASTIDADE E SEU PERFUME
02/03/2021
Diz 2 Coríntios 2,15: “Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se se salvam e entre os que se perdem”. Ou seja: Deus, “por Cristo, nos carrega sempre em seu triunfo” (da ressurreição) e, por meio de nós, “expande em toda parte o perfume do seu conhecimento” (v.14).
S. Paulo coloca isso como nossa missão: espalhar o perfume de Cristo entre todas as pessoas, boas e más. Mas acrescenta, no versículo 16, que para os que acolhem a Palavra de Deus Cristo é um perfume que leva à vida eterna; para os que não acolhem, é um odor que leva à morte eterna.
Aproveito esses versículos para “puxar a sardinha” para a virtude da castidade. Quem é casto exala um suave perfume que é sentido não tanto pelas pessoas, mas principalmente por Deus, por Maria, pelos anjos e santos. Incluo aqui as pessoas casadas e sua castidade relativa ao estado.
O perfume que a castidade exala nos abre o canal de ligação com Deus, principalmente com a intercessão de Maria, que foi o único ser humano, além de Jesus, que é totalmente casta, totalmente imaculada.
A castidade tem uma força muito especial em nossa vida. Entre as que pude encontrar, destaco estas:
1- A castidade nos abre a mente e o coração para vermos o outro em sua personalidade, em sua humanidade, em suas necessidades. Deixamos de ver as pessoas como um possível objeto de prazer erótico. Começamos a perceber coisas que, antes de vivermos em castidade, nunca havíamos percebido nas pessoas que nos rodeiam, que trabalham conosco, que encontramos em nosso dia a dia. Com uma vida casta nós começamos a amar as pessoas com o mesmo amor com que Deus e Maria nos amam, ou seja, com um amor casto, sem desejos de posse.
“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Sim, se formos puros de coração, que é mais do que ser casto, pois implica também em ser simples, humilde, sincero, sem segundas intenções, veremos Deus e veremos Deus nas pessoas. Deixamos de cobiçá-las para que sejam parte do nosso próximo encontro amoroso.
O fato de sermos castos nos leva a aceitar a amizade de qualquer pessoa, seja ela feia, bonita, magra, gorda, jovem, velha, sem nenhuma restrição, pois a castidade nos leva a vermos a alma da pessoa, e não seu “invólucro”.
2- A castidade nos abre para a oração. Um dos motivos é que nossa mente se despolui dos maus pensamentos e se purifica, conduzindo-nos para outras virtudes que não combinam com quem não é casto. E se tivermos tentações de maus pensamentos, o que é muito comum aos que abraçam a castidade após uma vida de desregramentos, façamos como Santa Catarina de Sena fala em suas cartas: tenhamos essas tentações impuras como um cachorro que está latindo perto de nós, mas preso numa corda. Essas sugestões do inimigo nada nos farão, se não lhe prestarmos atenção. Mas tenha cuidado para não recalcar esses pensamentos. Se recalcá-los, voltarão com mais força, como foi o caso comentado por Jesus em que os espíritos impuros voltarão com mais força à casa de que foram despejados. A técnica para não recalcar os pensamentos é não tentar tirá-los à força de nossa cabeça, mas substituí-los aos poucos por pensamentos puros.
Aliás, é aqui que entra a humildade como companheira da castidade: como diz S. Paulo em 2 Coríntios 4, 7, que somos vasos de barro, em que guardamos o tesouro de Deus, e, dentro desse tesouro, se encontra a castidade. Dificilmente vai conseguir ser casto quem não é humilde. Temos que nos conscientizar de que sempre teremos nossos hormônios correndo em nosso sangue 24 horas por dia, e nossa natureza animal nos impele à procriação e a tudo o que ela envolve.
A humildade nos faz ver que devemos evitar todas as ocasiões de pecado, a não enfrentar esse tipo de tentação, mas fugir dela, a termos na mente que somos castos puramente pela graça de Deus, e não tanto por nossas próprias forças. Nossa principal tarefa é rezar e evitar todas as ocasiões de pecar. O resto, Deus faz.
3- Transcrevo aqui um trecho de uma carta que o Papa Paulo VI enviou a um pastor seu amigo, sobre a castidade.
“(...) conserve-se puro. Hoje, amanhã e depois. Em casa, na igreja e na rua. Acordado ou dormindo (caso você tenha algum sonho erótico, provocado ou não por você, lave sua mente e entregue-o ao esquecimento). Sozinho ou na companhia de alguém. Em viagem de uma cidade a outra ou de um país a outro. Sua pureza não pode ser esporádica. Caso haja algum intervalo, apresse-se em pedir desculpas a Deus e a subir imediatamente o degrau do qual você desceu”.
MÉTODO PARA TORNAR-SE CASTO
1- Peça diariamente a Deus a graça de ser casto.
2- O segredo da castidade está em fugir de todas as ocasiões. Evite filmes eróticos, cenas eróticas, piadas eróticas, palavras impuras, conversas impuras, músicas impuras, pensamentos impuros (como já disse atrás, substitua-os por pensamentos neutros).
3- Retome sua castidade “física” aos poucos. Proponha ser casto apenas por um dia, como os dependentes químicos: “Só por hoje”. Se a tentação persistir, diga a si mesmo: “Na semana que vem eu faço isso”. Quando chegar a semana seguinte, fale consigo mesmo a mesma coisa: “Na semana que vem eu faço isso”. E, quando menos você perceber, está ficando livre daquele vício. E, como diz o Papa Paulo VI acima, se cair vá confessar-se e recomece a luta.
4- Seja humilde e reconheça suas fraquezas em matéria de atração sexual. Evite, por exemplo, ficar sozinho(a) com pessoas que o (a) atraem sexualmente.
5- Para terminar: muitas virtudes são conseguidas quando enfrentamos as tentações contrárias a ela. A virtude da castidade, como a da sobriedade, só se consegue fugindo das tentações. Não dá para enfrentá-las. O Papa Paulo VI diz, nesse artigo que mencionei acima:
“Fuja das paixões da mocidade. Ou, melhor, volte as costas para elas. Eu me refiro em especial aos desejos turbulentos da juventude. Não aos desejos naturais, sadios e controlados, mas às paixões malignas e aos pensamentos impuros. Fugir não é sinal de fraqueza nem de fracasso. Muitas e muitas vezes fugir de alguma coisa errada ou inconveniente é um ato de heroísmo”.
Teófilo Aparecido de Jesus.
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